Claudete Costa tornou-se catadora de lixo aos 11 anos, depois que sua mãe, Dona Sueli de Oliveira Costa, ela e seus outros dois irmãos fugiram de Vassouras, município do interior do estado do Rio de Janeiro. A mãe queria escapar da violência doméstica. A família acabou no Centro do Rio, nos arredores da Praça XV, onde passou a morar. Na rua mesmo. O ano era 1988. Dona Sueli começou a coletar caixas de papelão na rua para revender e também para usar de colchão. Foi a primeira vez que Claudete, à época com 8 anos, viu o lixo ser reaproveitado.
"Tivemos que aprender a viver na rua. Minha mãe vendia velas e rosas em frente a uma igreja durante o dia e coletava caixas de papelão na rua, durante a noite. Meus irmãos e eu vendíamos doces e pedíamos esmola. Aos 11, me tornei catadora", lembra Claudete, hoje presidente da cooperativa Ecoponto e a primeira representante dos catadores do estado do Rio eleita por votos pelo Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis. Sua mãe foi catadora e ativista pelos direitos desses trabalhadores até morrer, em 2010.
Vinte anos atrás, mãe e filhos rodavam as ruas do Centro do Rio em busca de materiais recicláveis, que carregavam no "burrinho sem rabo" — carroça para transporte de cargas com duas rodas, puxada pelos próprios catadores. A triagem dos materiais era feita durante a madrugada, no meio da Praça XV, ao lado de muitos outros colegas. Só no fim da década de 1990, com a construção de um galpão e a organização do trabalho em cooperativas, que a vida de Claudete começou a mudar. Ela criou seus três filhos com o dinheiro que ganha como catadora, e hoje trabalha das 7h às 17h, com pausas para o almoço e o lanche, coordenando funcionários que separam o lixo reciclável que chega ao galpão da cooperativa, em Honório Gurgel, na Zona Norte da cidade. A Cooperativa de Claudete, hoje, é uma das mais de 300 apoiadas pelo Instituto
O lixo retirado pela equipe da Comlurb das latas espalhadas pelos locais de competição é levado para áreas de triagem localizadas atrás das arenas esportivas, onde catadores fazem uma pré-seleção dos materiais recicláveis, que ainda vão para o galpão da cooperativa passar por uma segunda triagem.
Além de destinar toneladas de materiais — até agora, foram 56, segundo o reciclômetro olímpico — para reciclagem e gerar renda para os catadores, um dos principais objetivos da ação é ensinar os participantes do maior evento esportivo do mundo a descartar corretamente os resíduos para reciclagem. Os resíduos orgânicos devem ir para as lixeiras cinza e os recicláveis (metal, plástico, vidro e papel), para as verdes. Durante os horários de pico da praça de alimentação do Parque Olímpico e dos outros locais que integram o projeto, diversos catadores se posicionam próximos às lixeiras para tirar as dúvidas do público sobre em qual lata descartar o resíduo e para explicar a importância de se destinar esse material ao local correto.
Os catadores, em sua maioria oriundos de cooperativas que já integram o Coletivo Reciclagem, do Instituto
"Esse trabalho deixa alguns legados para a cidade do Rio: a educação ambiental da população em relação ao lixo, a certeza de que o material coletado durante os Jogos será reaproveitado e a certeza de que uma prestação de serviços como essa é um modelo de negócios possível para as cooperativas de catadores", observa Laura Teixeira, especialista em sustentabilidade da
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