No rugby, não há vencedores nem vencidos – apenas sobreviventes. O aforismo vem acompanhado de um sorriso divertido dos praticantes do esporte inventado (como quase todos os outros) na Inglaterra como uma variação do futebol. Na verdade, assemelha-se mais a outro futebol, o americano, por causa do intenso contato físico e da disputa territorial para conduzir a bola (oval) até além da linha de fundo adversária.
O esporte esteve em alguns dos primeiros Jogos Olímpicos da era moderna – Paris/1900, Londres/1908, Antuérpia/1920 e Paris/1924. Voltou somente agora, na versão Sevens, de sete jogadores em cada time, com 12 seleções. As partidas foram no Estádio de Deodoro, de 6 a 11 de agosto. No masculino, a medalha de ouro foi para Fiji, e, no feminino, para a Austrália. A seleção brasileira terminou em nono lugar.
O rugby exige resistência física, técnica e disciplina tática no limite. Seu principal objetivo é marcar o try, quando um jogador ultrapassa a linha de in-goal (o fundo do campo, onde fica o gol em formato de H) e apoia a bola no chão. Vale cinco pontos e dá direito à conversão, um chute que precisa passar na metade superior do H para somar mais dois pontos.
Marcos Tristão/Agência O Globo
Na maior parte dos dois tempos de sete minutos cada, a batalha física domina as ações, produzindo cenas como o scrum, forma de reinício dos jogos, depois de uma infração. A bola é posta sob um túnel com três integrantes de cada time, que se empurram para decidir na força quem fica com ela. Outra forma de recomeçar a disputa chama-se line-out, reposição da bola que sai pela lateral. Os jogadores fazem duas filas perpendiculares à linha, para lutar pela bola, lançada entre eles. As fileiras podem levantar um dos atletas, para disputar o lance.
Diferentemente do futebol americano, só quem carrega a bola pode ser derrubado (tackle) – e sempre da linha do peito para baixo, evitando diminuindo a possibilidade dos perigosos choques de cabeça. Aliás, os atletas não usam equipamentos como capacetes ou ombreiras, obrigatório no “primo” ianque. Vão para a batalha de calção, camiseta, meião, chuteira e muita de determinação.
Inclusive mulheres como a niteroiense Baby, de 30 anos, pilar (posição que luta pelas bolas paradas) da seleção brasileira que jogou nos Jogos Rio 2016. Ex-praticante de natação e capoeira, ela exalta a cultura “muito particular” do rugby, baseada em valores sólidos, obrigatórios a todos que entram em campo. “Precisamos ter respeito, disciplina, camaradagem, amizade entre os atletas e lealdade ao clube”, lista ela, contando que apenas o capitão fala com o árbitro e a ética também comanda a relação com os adversários. “Não tem o caô do futebol”, garante.
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Formada em Belas Artes e Artes Cênicas, Baby mudou-se há dois anos para São Paulo e hoje vive exclusivamente do rugby. A versão feminina do esporte vem ganhando visibilidade, muito por causa dos resultados expressivos conseguidos pela seleção, 11 vezes campeã sul-americana. “Estamos derrubando barreiras”, conta ela, referindo-se ao jogo e à vida.
Bem no tom histórico do rugby, esporte que está diretamente ligado à luta contra o apartheid na África do Sul. Paixão dos brancos, serviu de combustível para o recém-eleito presidente Nelson Mandela pôr em prática seu plano de paz. Uma das grandes personalidades do século XX, ele usou a Copa do Mundo da modalidade, jogada no país em 1995, para mobilizar a nação dilacerada pelo regime racista em torno dos Springbooks, a seleção nacional. A cruzada terminou no título contra a favorita Nova Zelândia (os All Blacks), e virou filme, “Invictus” (2009).
Reportagem produzida pela Ecoverde Conteúdo Jornalístico
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