Uma grande empresa de bebidas, uma psicóloga e o instituto que mobiliza a sociedade para os temas da infância. Os três reunidos, lado a lado, para discutir o consumo entre crianças e a nutrição no ambiente escolar. Assim aconteceu, na última sexta-feira (23), um debate sobre publicidade infantil e até que ponto — e idade — crianças têm discernimento para fazer escolhas, principalmente dentro nas instituições de ensino, quando estão longe dos pais.
A discussão fez parte do encontro internacional Educação 360, promovido no Rio pelos jornais O Globo e Extra. A diretora de Categorias da
Nisti abriu a conversa com uma mensagem clara: “Se dois lados gritam, ninguém ouve nada. O diálogo provoca transformações sociais de maneira mais eficaz. E o Alana tem, como um de seus polos de atuação, a publicidade infantil”. Para combater problemas como a obesidade infantil, o esforço deve ser da sociedade como um todo, disse ele.
“A criança realmente é a alma do negócio? A Constituição Federal de 1988 coloca em seu artigo 227 que a criança tem prioridade sobre qualquer outro ser. Depois veio o Código de Defesa do Consumidor e a proibição da publicidade abusiva. E em 1994 nasceu o Alana”, contou o CEO.
'Se dois lados gritam, ninguém ouve nada. O diálogo provoca transformações sociais', Marcos Nisti, CEO do Instituto Alana
O Alana, diz Nisti, começou a falar sobre o assunto a partir de 2006 e passou a notificar e denunciar empresas. Em números, foram cerca de 400 notificações e 80 denúncias para mostrar os efeitos da publicidade infantil. Foram produzidos documentários também, como o “Criança, a alma do negócio” (2008) e “Muito além do peso” (2012), sobre obesidade infantil. Muitas marcas foram expostas, inclusive bebidas do portfólio da
“Desse ‘grito’ saiu uma história de diálogo. A
A proposta foi feita: parar de fazer publicidade para crianças. Como este já era um caminho e compromisso mundial da The

O CEO do Instituto Alana, Marcos Nisti, faz a apresentação sobre os muitos temas relacionados à infância no Brasil
Gustavo Stephan
Independentemente de conversas e parcerias em prol de debates como o dos direitos da criança, a Alana continua com seu papel. Surgiram notificações posteriores, inclusive contra a
Diretora de Categorias da

Andrea Mota, diretora de Categorias da
Gustavo Stephan
A decisão de vender apenas água e sucos 100% nas escolas com crianças até 12 anos, medida adotada em agosto, foi motivada pela política de marketing que existia desde 2008. Andrea lembra que, na verdade, a primeira política de controle de marketing foi feita nos anos 1950 na The
Durante quase dois anos, conta Andrea, foram analisadas formas de alterar o cardápio vendido pelos fabricantes da
O diálogo com especialistas, de dentro e de fora de uma empresa como a
A psicóloga Maria Tereza Maldonado foi além das discussões práticas de mercado e ações da sociedade para os sentidos emocionais da alimentação. Em adição ao debate entre indústria e sociedade civil, ela contou que esse assunto está na raiz da dinâmica familiar. A psicóloca Maria Tereza Maldonado fala sobre os significados emocionais da alimentação
Gustavo Stephan
“O bebezinho nasce com alimentação no seio ou mamadeira. Há toda a estimulação sensorial, toda a tecelagem do amor. Desde os primórdios, a nutrição está carregada no vínculo do acolhimento. Estamos falando de uma nutrição afetiva e não só de ingestão de alimentos”.
À medida que a criança vai crescendo, conta Maria Tereza, observam-se tendências diferentes. Algumas se abrem para o novo, testam sabores, cheiros de frutas; outras se fecham para tudo, o conhecido “não provei e não gostei”.
A família deve estar sintonizada para a leitura dos estímulos da criança, conta a psicóloga. Há choro de fome e também aquele que é colo. Muitas vezes, diz ela, essa leitura não é feita adequadamente e qualquer expressão é lida como “a criança está com fome”.
“Assim, a comida muitas vezes vai servir para aliviar irritação, suprir carinhos, acalmar, distrair. E, muitas vezes, essa história vai no decorrer da vida. Estou frustrada, tensa? Vou comer chocolate, um pudim inteiro. As raízes estão ali, não é só necessidade de prazer.”
Sobre crianças de até 12 anos, Maria Tereza reafirma a incapacidade de discernimento sobre o que é adequado ou não. “Muitas vezes até nós, adultos, não temos”, diz ela. “Para a construção de uma vida mais saudável em todos os aspectos, gosto muito de trabalhar com o conceito das pequenas mudanças que vão progressivamente se amplificando. Como a cooperação da família e da escola pode ser estreitada? Como acontecem mudanças no cotidiano das famílias se estamos falando que comer está dentro da questão afetiva?”.
Seja qual for o ator, está aberto o caminho do diálogo. Em casa, na escola ou na comunicação das empresas.
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