Essa cidade singular chamada Rio de Janeiro é o reino plural não de um, mas de dois carnavais. Blocos e escolas de samba dividem pacificamente o território para mergulhar na alegria que enfeitiça o mundo. Aqui tem festa em dobro!
A celebração em dose dupla ganhou vidas independentes em estilo e ambição, formato e demanda, tamanho e protocolo. Os protagonistas realizam seus espetáculos simultaneamente, com a solitária coincidência determinada pelo calendário. Mangueira, Salgueiro, Beija-Flor, Portela e as outras escolas (perto de 60!) aqui; Simpatia é Quase Amor, Timoneiros da Viola, Bola Preta, Cacique de Ramos e centenas de blocos grandes, médios e pequenos, ali, acolá — e viva a pacata dicotomia do ziriguidum!
Na verdade, a passagem pelo altar iluminado dos bambas marca o fim da odisseia. Antes, são meses de ensaios semanais, a confecção de fantasias e alegorias, dedicação xiita em nome do objetivo maior. Na hora, convém não atrasar nem exagerar na bebida, além de, óbvio!, estar com o samba tatuado na alma. Mas experimente perguntar a algum daqueles milhares de artistas se ele cogita abandonar a devoção.
“Ê, Boi Ápis
Lá no Egito, festa de Ísis
Ê Deus Baco, bebe sem mágoa
Você pensa que esse vinho é água
É primavera
Na Lei de Roma
A alegria é que impera
Oh! Que beleza
Máscara negra
No Baile de Veneza”
Os versos do samba de J. Brito, Bujão e Franco para o enredo “Festa profana”, da União da Ilha, listam as referências formadoras das escolas de samba. De Egito, Grécia, Roma e Veneza vieram itens que se uniram ao batuque sincopado dos escravos trazidos d’África. Da mistura, surgiu o cortejo cheio de ritmo e dança que se espalhou subúrbio adentro, para se reunir novamente na avenida, a partir dos anos 1930.
No essencial “Livro de ouro do carnaval brasileiro”, Felipe Ferreira ensina que o evento “exerceu, por diversas razões, papel centralizador e determinante para a formatação da folia nacional”. Naqueles processos, ocorridos nas ruas da então capital do país, as tensões entre a diversão sonhada pela elite e as brincadeiras do povo arremataram a obra. “A partir da primeira década do século XX, a festa carnavalesca carioca tornava-se o local simbólico da folia mestiça, transformando-se em paradigma cultural popular da nação”, retrata o autor, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e um dos mais profundos conhecedores do tema no Brasil.
Os blocos, explica o historiador Luiz Antonio Simas, ratificam a vocação da cultura popular brasileira e suas manifestações em cortejo. São parentes dos ternos de Reis, das procissões católicas, dos afoxés, da festa de Nossa Senhora do Rosário. Surgiram no Rio de Janeiro da Primeira República, como grupos carnavalescos no meio do caminho entre os ranchos — vistos como manifestações respeitáveis, com enredos, apresentações solenes para presidentes da República e outros poderosos — e os cordões, a tradução do carnaval das “classes perigosas”. “Os blocos nem eram 'respeitáveis' como os ranchos tampouco altamente perigosos e violentos como os cordões”, analisa Simas. “Formavam-se quase espontaneamente, a partir de turmas de bairro, que queriam sair para brincar e eventualmente arrumar alguma confusão”.
Todos, blocos e escolas de samba, para materializar o milagre anual da terra encantada dos dois carnavais. Que assim seja, para sempre.
Texto produzido por Ecoverde Conteúdo Jornalístico
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